sexta-feira, 6 de setembro de 2013

CHEGADA AO RIO DE JANEIRO



CHEGADA AO RIO DE JANEIRO

Anotação sobre o ano de 2010


Quando cheguei, o táxi passou próximo a uma zona portuária onde vi a favela. O coração saltava. Mais à frente, fomos atravessados pela luz de um sol tão único, que nunca mais vi. Os raios refletiam nas pedras e no verde da mata ao redor. Um verde, ao qual meu olho, completamente ignorante, ainda não se acostumou. Do lado e do outro as coisas duplicavam, cresciam, brotavam pela janela em movimento. Foi então que, pela primeira vez, senti-me confortável em uma cidade. Senti-me inteiramente conformada à ideia daquilo que sempre fui: uma pessoa que não pertence a este lugar.

Rio, 29/08/2013

SERTÃO E ESTRADA



SERTÃO E ESTRADA
Anotação de 27/08/2013

O sertão é o primeiro lugar. Sinto como se estivesse à deriva, flutuando em meio a uma paisagem vazia, cruzando esta estrada. Flutuando em meio a uma paisagem vazia. O sertão que está em minha cabeça, minha carne, meus ossos é anterior a isto que vejo. Destino sem escolha. Mas igualmente impregnado de melancolia. Extensões de terra.  Meu sertão é portátil. Descompassado. Inútil. E triste.

VIDA (anotação sobre um dia triste)



VIDA
(anotação sobre um dia triste)
Para minha avó Amélia.


Só agora tomei, de fato, consciência de algo que já sabíamos: somos poucos. E cada vida com sua existência isolada, como as estrelas que, no céu aparente, são quase vizinhas. Há milhões de anos luz entre elas. Talvez nunca se encontrem. Tomo consciência de que, de fato, somos vidas pulverizadas. Estrelas. Cacos de vidro. Vagalumes. Nosso tempo partia da voz de um corpo que já não existe mais. Isso nos unia. Ouvir como éramos antes de nós mesmos, dava-nos a certeza exata do tempo de quando seríamos. Eu mesma conto isso agora e me desespero. Apesar de ter ouvido tantas vezes. Agora o quarto está vazio. Há espaço demais nesta casa tão pouca de palavras.  


Carmélia M. Aragão
Sobral, 20/08/13.